Lembro-me do dia que tive a honra de ouvir a voz única de Elizabeth Grant, conhecida como Lana del Rey, pela primeira vez. A música me parecia absolutamente sexy e a voz dela acompanhava com perfeição. As letras eram provocativas e pregavam uma liberdade real que há muito eu não tinha o prazer de ouvir.
Ride foi a primeira delas. O clipe possui pouco mais de 10 minutos e possui uma narrativa muito interessante na introdução e na conclusão. Fiquei absolutamente viciada a partir dali. Há muito nenhum artista teve a chance de me tocar a alma tão rapidamente. Além da voz misteriosa e sensual, a figura da própria Lana ajuda a alimentar a sensação de que você está de se teletransportando aos anos 60, com cabelos bem feitos, unhas compridas e o delineador de gatinho. Inicialmente, achei que ela faria o papel de uma "suicide girl", mas me surpreendi com a autenticidade com que ela se apresentava em outros clipes.
Lembro de ter ouvido Gods and Monsters e, ainda, Video Games, que acabou por se tornar minha música favorita da cantora. Em um show que fez no Rio de Janeiro - no qual tive a sorte de ir e confirmar que Lana é talentosíssima ao vivo -, ela afirmava que foi exatamente essa música que lhe rendeu o contato com os fãs brasileiros.
Apesar de não agradar a todos, visto que suas músicas são calmas e de letras consideradas deprimentes até certo ponto, é indiscutível a qualidade vocal de del Rey. Ela parece ter uma fixação, em seus clipes, em representar a morte, como acontece em Born to Die e Blue Jeans, rendendo a ela esse ar melancólico-sexy.
Com o lançamento do remake de The Great Gatsby - coincidentemente um dos meus livros favoritos -, uma música da cantora enriquecia a variada e interessante trilha sonora. Com o hit Young and Beautiful, ela me encantou mais uma vez. A versão orquestrada da música é simplesmente divina e, como de costume, possui as letras trágicas.
As novelas brasileiras da Globo acabaram por trazer alguns sucessos da artista. Salve Jorge tinha, em sua trilha internacional, Ride. Amor à vida conta com Summertime Sadness, que também vem tocando frequentemente nas rádios nacionais.
Recentemente, a cantora lançou um short film de 27 minutos de Tropico em seu canal oficial do Youtube. Nele, apresenta três musicas: Body Electric, Gods and Monsters e Bel Air. O short film é lúdico e a cantora utiliza figuras cristãs misturadas com a realidade da vida de uma stripper. Vale a pena conferir a versão "explicit".
A cantora não faz questão de parecer certinha, e grande parte de suas músicas fazem referências ao álcool, cigarros e maconha. Apesar de tratar de assuntos alheios aos "bons costumes", Lana atrai uma legião de fãs pré-adolescentes, com suas tiaras de flores, em seus shows. A cantora sempre tem referências à cultura pop/rock, o que também me atrai bastante: cita Nirvana, Jim Morrison, Marilyn Monroe, Elvis etc. A cantora ainda recria de forma muito peculiar, em National Anthem, a morte de JFK.
Apesar de fã assumida, primeiro por ter me apaixonado pela voz e, depois, pelas letras trazidas pela cantora, me viciei mais pelo que Lana representa. Apesar de ser uma mulher indiscutivelmente bela, ela não usa do corpo para conseguir a fama. Apresenta-se sempre com seu estilinho de anos 60 em seus shows e na maioria dos clipes. Fora dos palcos, Lana é frequentemente vista de jeans, tênis e camiseta. Existe algo mais sexy do que uma mulher que sabe que é tão linda que pode usar all star e desfilar por aí com uma confiança inabalável?
É exatamente com isso que a cantora brinca. Lana cria um universo onde você pode ser quem quiser ser: a stripper, a mãe dedicada, a garota que fugiu de casa, a mulher apaixonada, entre tantas mais. Qualquer que seja seu avatar, tem que haver uma plenitude nele. Você pode ser tudo que quiser. Você pode ser todas ao mesmo tempo. E é essa confiança em qualquer situação que é apaixonante. Ela não precisa ser perfeita, porque ela sequer tenta ser. Lana parece trazer esse conforto: somos reais, somos de carne e osso, temos defeitos e, ainda assim, somos incríveis.
Parafraseando outro evento musical que eu amo, em Little by little, do Oasis, canta-se que "true perfection has to be imperfect". Clarice Lispector, também um dos meus vícios, afirmava que "até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro".
Estamos vivendo uma era onde cada vez mais somos bombardeados com imagens de "ideais", de "perfeições" e a cada ano surge uma nova tendência sobre como deveríamos ser, qual imagem deveríamos ter, como nossos corpos deveriam se apresentar. Será que é realmente isso que a gente quer? Por que é tão difícil conviver com as nossas imperfeições? Toda hora me pego lutando contra isso, ao mesmo tempo em que penso dez vezes antes de comer um hambúrguer.
E hoje, depois de ter ido ao show dela e acompanhar de perto a carreira da Lana, sei porque sou fã assumida da moça. Quando eu olho para a Lana, eu não vejo o ideal do que eu deveria ser. Eu não vejo um padrão a copiar. Eu vejo uma mulher talentosa e bem sucedida, vivendo a própria vida do seu próprio jeito, fazendo o que quiser, com uma plaquinha que diz: Continua, garota. Você tem que ser exatamente quem você é.
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